Parece estranhamente surpreendente como a história, mais cedo ou mais tarde, apresenta-nos verdades que outrora eram refutadas ou inaceitáveis em determinados períodos históricos, como a inquisição espanhola, que chegou a queimar pessoas acusadas da utilização e consumo de Cannabis. Importante frisar que muitas ervas foram e são utilizadas para conexão com o divino, em uma perspectiva de transcendência de consciência e de autoconhecimento.

A influência e a violência religiosa medieval se consolidam em aspectos morais em diversas civilizações. A planta com diversos princípios medicinais seguiu, por séculos, em um intenso processo de demonização, proibicionismo e criminalização. Nos últimos anos, o debate científico acerca da importância da erva para tratamento de diversas adversidades, seja na saúde mental ou física, vem ganhando força, agora, para além da comunidade científica, mas com a considerável adesão de movimentos sociais, pacientes e familiares, o que vem, gradativamente, ocupando espaço em diversos espaços da imprensa e dos equipamentos de saúde.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem ganhado espaço no campo da saúde, da educação e do desenvolvimento. Os médicos Leo Kanner e Hans Asperger iniciam um debate que foi ganhando densidade com outros pesquisadores, que levaram a um melhor conhecimento sobre o TEA. Durante os anos de 1950, houve muita confusão sobre a natureza do autismo, e a crença mais comum era de que o TEA seria causado por pais emocionalmente distantes (hipótese da “mãe geladeira”, criada por Leo Kanner), mas vivemos outros tempos.

A Cannabis tem se tornado um importante instrumento de apoio no acompanhamento do autismo, trazendo comprovadas experiências de sucesso no desenvolvimento das pessoas com TEA, na interação com outras, na aprendizagem, nos relacionamentos e em outras atividades do cotidiano. A melhora na qualidade de vida é uma das constatações no tratamento do autismo com Cannabis medicinal.

Por isso, o Núcleo de Atenção à Saúde e Cuidados Integrativos (Nasci), do Instituto Adesaf, por meio de cooperação com parceiros, atualmente atende a cerca de 60 famílias em situação de vulnerabilidade social, sendo considerável parte desses atendidos crianças e adolescentes com TEA. Eles recebem atendimento médico e o remédio prescrito à base da planta.

O Nasci leva a convicção de que a crença na Ciência e na Medicina tradicional por meio das ervas, que há milênios cuidam e curam os seres humanos, é imprescindível para uma sociedade saudável em suas relações. Sancionar a lei estadual que incorpora ao SUS o tratamento com Cannabis foi uma grande vitória. Agora, é avançar para a descriminalização da maconha e a regulamentação do plantio.

A planta que ontem foi alvo de perseguição associada ao demônio, pela inquisição e pelo que a precedeu, hoje, é a semente da esperança para milhões de pessoas, na perspectiva de uma vida melhor: de trocar o mundo em si, e ganhar o mundo para si!

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