Autor: Prof. Me Odair Dias Filho – Professor universitário, pesquisador, assistente social, poeta, escritor e educador do Instituto Adesaf

Há tempos, a “loucura” é objeto de discussões na humanidade. Mas, o que é normalidade?

A sociedade considera normal tudo aquilo que está em suas convenções e protocolos. O sofrimento mental, através dos tempos, muitos deles sombrios, como a Idade Média, era considerado uma possessão demoníaca. Muitas e muitos foram vivos para fogueira da inquisição católica: mulheres – que afirmavam seu direito à liberdade, à igualdade, à justiça ou as que se destacavam pelas ideias, inteligência e autonomia – também eram punidas pelos seus “desajustes”. Fogueiras, masmorras, torturas, prisões, clausura… Esses eram os remédios. Os manicômios, sob a máscara de hospital, eram instrumentos para tenebrosas experiências e atrocidades. Tivemos, no Brasil, a experiência do “Hospício Colônia”, onde há contradição até no nome. O prédio, em estado de degradação em muitos ambientes, segundo estudos, chegou a registrar, em sua existência, 60 mil mortes. Por isso, esse fato é chamado na, história contemporânea, de Holocausto Brasileiro, pois para lá iam os “indesejáveis” da sociedade, de pessoas em situação de rua a oponentes políticos, de mulheres trabalhadoras do sexo a pessoas realmente com sofrimento mental.

Em Santos, na gestão da então prefeita Telma de Souza, um marco simbólico coloca a cidade na vanguarda da luta antimanicomial: o fechamento do Hospício Anchieta e a implementação de uma inovadora Política de Saúde Mental, inspirada na estratégia e nos métodos de Nise de Oliveira: a arte passa a ser um instrumento imprescindível no tratamento, acolhendo e olhando o paciente em sua totalidade. Na sequência, a implementação dos CAPS, os Centros de Atenção Psicossocial, e o fim das internações compulsórias, que muitas vezes agravavam a saúde mental, colocou Santos na vanguarda dessa política de saúde.

A concepção de loucura levou a inspirações em diversas expressões da arte e cultura. Em 1511, Erasmo de Roterdã escreveu “Elogio da Loucura”, uma homenagem ao autor de “Utopia”, Thomas More. Ali, genialidade e loucura se entrelaçam de forma fascinante nessa obra do renascimento. O suposto abismo entre razão e loucura continua gerando debates, mas, acima de tudo, preconceitos e exclusão.

Defendemos uma Política de Saúde Mental Humanista, com atenção integral ao usuário e a sua família, com pleno diálogo com os Direitos Humanos, com as novas tecnologias e as formas de tratamentos que surgem como alternativa para várias formas de sofrimento mental. O tratamento com Cannabis é um deles. Nossos ancestrais já haviam descoberto a eficácia dessa planta, tanto medicinal quanto sagrada.

Seguimos na defesa da humanização e na implementação de estratégias inclusivas e acolhedoras. Termino com a canção de Arnaldo Batista, imortalizada pela eterna Rita Lee: “dizem que sou louco por pensar assim, mas louco é quem me diz que não é feliz.”

Viva a Luta Antimanicomial!

Pela descriminalização da maconha, pela justiça e liberdade!

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