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CARTA ABERTA À NAÇÃO

CARTA ABERTA À NAÇÃO

O Brasil vem sofrendo com o grave cenário da crise institucional que se instaurou e passou a assolar o País nos últimos meses, agravado por denúncias recentes envolvendo a alta cúpula do governo, incluindo o presidente da República, Michel Temer. Em uma atitude altamente antidemocrática e repressora, ignorou o clamor nacional que manifesta, por meio dos atos populares, seu repúdio a um governo com ínfimas taxas de aprovação.

As vozes das ruas vêm sendo abruptamente caladas por tais atitudes que são disfarçadas de manutenção da ordem e da paz. Mas qual ordem? A ordem dos que governam sem respaldo popular e que mergulharam esta Nação em clima de desgoverno e arbitrariedades? A ordem dos que tramam pelos corredores da Capital, em detrimento daqueles que verdadeiramente se empenham para o progresso do País?

A manutenção da ordem institucional se fará quando for devolvido ao povo o poder que sempre lhe pertenceu – e sempre pertencerá, embora tentem roubá-lo -, de forma que seus legítimos donos redefinam os rumos do País por meio de eleições livres e diretas, a caminho do avanço da Nação e superação da crise.

Sem respaldo popular ou legalidade moral para conduzir a ordem política, jurídica, econômica e social, configura em um grave ataque às liberdades individuais e coletivas, quais sejam, a liberdade de expressão e manifestação, a liberdade de poder escolher, opinar e optar por representantes no comando no País. Pessoas que não tragam em seu histórico máculas graves que ameaçam deslegitimar as decisões desses mesmos governantes, inclusive, em assuntos tão sérios como as reformas propostas pelo atual governo e em andamento nas discussões.

Em anos anteriores, na história nacional, quando o País caminhou para uma crise que se considerou, seria, pois, superada pela intervenção das Forças Armadas. Mais do que o apoio do exército, houve o apoio popular, diferentemente do momento histórico ímpar em que vivemos atualmente, no qual a população, de forma esclarecida e amadurecida no contexto da Democracia, compreende que o caminho da repressão e da ditadura não será a solução, tampouco a salvação da Nação.

A salvação da Nação, certamente, está na união dos brasileiros na luta por um País limpo, justo, democrático em busca do mesmo objetivo, independentemente de partidos políticos, bandeiras e ideologias, pois, acima de qualquer coisa, somos um povo que sofre e se entristece ao perceber que tantos anos de luta pela construção de um País livre e democrático podem ser destruídos com ações burocráticas, “canetadas” e decretos que pretendem varrer para os porões da História toda a conquista de uma Nação.

Somos um povo consciente de seu poder e valor que vê sua mobilização em torno da reconstrução de um País ser ameaçada por atitudes repressoras de um governo despreparado. Aqueles que não estiverem preparados para governar, na democracia, devem abrir caminho para os novos tempos, porque os tempos passados ficaram para trás, e não voltarão.

Em 1964, reformas constitucionais de cunho social, voltadas ao benefício das camadas mais desprivilegiadas geraram uma onda de revolta de certos grupos sociais, que serviu de base e desculpa para que se articulasse e se colocasse em prática o plano de entregar o comando do Brasil aos militares.

Hoje, novamente no contexto de reformas trabalhista e da Previdência, que afetam diretamente e de forma negativa as classes mais desprotegidas: trabalhadoras e trabalhadores. De novo, vemos um movimento de não aceitação, mas, dessa vez, justamente dos segmentos que serão diretamente afetados por tais reformas.

Novo País. Novo povo. Novo contexto. No entanto, emergindo as mesmas práticas de tentar negar ao povo sua voz e manifestação de seus anseios. Mais uma vez, tentarão calar o povo? Mais uma vez, um decreto teve como objetivo substituir e abafar a voz de milhões? O Golpe Militar e o AI-1, de abril de 1964, que o consolidou, conseguiram esse intento. Calaram uma Nação por mais de 20 anos.

Hoje, repudiamos as ações do passado. Um passado que ameaçou voltar. Agora, conscientes de que somos donos e construtores de nossa história e de nosso destino. Por isso, nosso repúdio é agora. Nosso repúdio é imediato, para salvaguardar o direito da atual e das futuras gerações em manter o direito à opinião, à escolha e à manifestação dessas opiniões e escolhas. Não aceitamos deixar para as próximas gerações o País governado por políticos que, diante do cenário de denúncias graves, adotam tom repressor e opressor, e que se tornaram ilegítimos para representar uma população unida em torno de um ideal de reconstrução da Nação!

A autorização do uso das Forças Armadas para conter as manifestações populares não se converterá em mais 20 anos de uma história de repressão em nosso País. Um decreto não foi e não pode ser mais forte que 200 milhões de pessoas. Um papel não pode substituir e afogar os anseios de toda uma população.

Papel, este, que pretende barrar a “violência” das manifestações populares, mas não apresenta quem barra a violência de reformas que só pretendem retirar direitos e conquistas de décadas. Quem vai barrar a violência da corrupção que condena milhões à falta de saúde, educação, moradia, segurança e ao trabalho?

Só nossa união irá conseguir esse objetivo: barrar aqueles que querem nos calar, enquanto nos tiram os direitos, aqueles que nos querem passivos enquanto somos violentados, diariamente, em nossos anseios por um País melhor e mais justo. E sabendo, hoje, os contornos de um golpe, identificamos, nas ações em curso na Nação nos últimos dias, uma nova caminhada rumo a mais uma tentativa de golpe.

Não foi desta vez. Não vai ter golpe!

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